A Ceia Do Senhor: O Memorial Da Nova Aliança

Por: Pr. Reginaldo Cresencio
Pregado no domingo pela manhã, 02 de novembro de 2025,
na Igreja Batista Raízes, São Carlos - SP.
Texto base: Lucas 22.14–20 (NVI)
¹⁴ Quando chegou a hora, Jesus e os seus apóstolos reclinaram-se à mesa.
¹⁵ E disse-lhes: "Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer.
¹⁶ Pois eu lhes digo: Não comerei dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus".
¹⁷ Recebendo um cálice, ele deu graças e disse: "Tomem isto e partilhem uns com os outros.
¹⁸ Pois eu lhes digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus".
¹⁹ Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: "Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim".
²⁰ Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês.
Introdução
Há encontros que marcam a alma.
Imagine o silêncio naquela sala em Jerusalém. As lamparinas tremulavam, o cheiro do pão e do vinho se misturava ao perfume das ervas da Páscoa.
Jesus, sabendo que a cruz já se aproximava, senta-se à mesa com os doze e diz:
"¹⁵ Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer."
A Ceia nasceu do desejo ardente de Cristo de estar com os Seus antes de morrer por eles.
Não foi apenas uma refeição, mas a inauguração de uma nova aliança, selada não com sangue de cordeiros, mas com o Seu próprio sangue.
Entre todos os momentos que Jesus viveu com Seus discípulos, nenhum foi tão cheio de significado quanto aquela última refeição.
Ali, na véspera da cruz, o Mestre não apenas parte o pão e oferece o cálice, Ele estabelece uma ordenança sagrada, um memorial que atravessaria os séculos: a Ceia do Senhor.
Na visão batista, a Ceia não é um ritual místico, nem uma cerimônia que transmite graça automaticamente, mas uma lembrança viva do sacrifício de Cristo, celebrada pela igreja local, composta por homens e mulheres regenerados, batizados e em comunhão.
É um momento em que o povo de Deus olha para trás, lembrando a cruz; para dentro, examinando o coração; para os lados, reconhecendo a comunhão; e para frente, aguardando a volta de Cristo.
Vivemos em tempos de pressa e superficialidade espiritual. A Ceia, porém, nos convida a parar, refletir e adorar. É a mesa da memória, da comunhão e da esperança.
Lucas nos apresenta o cenário da última Páscoa de Jesus.
O versículo 15 é comovente: "Tenho desejado ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer."
No grego o verbo expressa um desejo intenso, quase ardente. Jesus ansiava por aquele momento, pois sabia que ali daria novo significado à antiga Páscoa.
A libertação do Egito seria substituída pela libertação do pecado.
Ao tomar o pão e o cálice, Ele declara:
"Este é o meu corpo entregue por vocês... Este cálice é a nova aliança no meu sangue."
Nós compreendemos essas palavras não como transformação literal dos elementos, mas como símbolos visíveis da realidade espiritual:
- O pão representa o corpo entregue por nós.
- O cálice representa o sangue derramado para remissão dos pecados.
O foco está na lembrança do sacrifício ("fazei isto em memória de mim").
A Ceia é memorial, não meio de justificação.
O ato em si não confere graça; recorda a graça já recebida pela fé.
Na Bíblia, há duas ordenanças deixadas por Cristo à Sua Igreja: o batismo e a Ceia do Senhor.
Ambas são sinais visíveis da fé; não salvam, mas testificam a salvação que Cristo já realizou.
O Batismo é a porta de entrada na comunidade da fé, testemunho público de morte e ressurreição com Cristo.
A Ceia é a mesa da comunhão, testemunho contínuo da nova aliança selada em Seu sangue. A Ceia pertence à igreja local, e não a indivíduos isolados. Ela é expressão da unidade do corpo.
Cada membro batizado e em comunhão participa como testemunha do evangelho, lembrando, proclamando e aguardando.
Não há presença física de Cristo nos elementos, mas há presença espiritual e real pela fé.
Ao comer e beber, não absorvemos Cristo, mas lembramos que já fomos absorvidos por Sua graça.
Assim como Israel celebrou a Páscoa ao ser liberto do Egito, a Igreja celebra a Ceia como povo liberto do pecado. O sangue do cordeiro marcou as portas das casas hebreias; o sangue de Cristo marcou nossas vidas eternamente.
Charles Spurgeon dizia: "O pão e o vinho são sermões visuais. O que pregamos com palavras, eles pregam com símbolos."
Pense em um álbum de família. Cada foto desperta lembranças de amor, cuidado e história. Assim é a Ceia, um álbum espiritual, onde cada pedaço de pão nos lembra o corpo ferido, e cada gole do cálice, o sangue vertido.
Aplicações Práticas
- Celebre com consciência e reverência. Examine o coração antes de participar. A Ceia é para crentes arrependidos, batizados e em comunhão com a igreja.
- Reafirme sua fé. Cada vez que come e bebe, você declara: "Creio em Cristo, o Cordeiro de Deus que me salvou."
- Viva em unidade. A mesa é do Senhor; não há lugar para divisões, rancores ou espírito de superioridade.
- Aguarde com esperança. Cada Ceia aponta para o banquete eterno — a mesa definitiva do Cordeiro (Ap 19.9).
Conclusão
No centro da Ceia não está o homem, mas Cristo crucificado e ressurreto. Tudo o que fazemos, oramos, cantamos e recordamos na Ceia deve apontar para Ele. Jesus é o Cordeiro perfeito, o Mediador da nova aliança e o Senhor da Igreja.
Ao redor desta mesa, o cristão não adora o símbolo, mas o Salvador.
Não busca experiência mística, mas reafirma a fé em Cristo, único mediador entre Deus e os homens.
A Ceia do Senhor é simples, mas profunda. Não há ouro, incenso ou ritos complexos. Há pão, vinho e fé.
A simplicidade dos elementos revela a grandeza da mensagem: Cristo morreu por nós.
Hoje, quando nos aproximamos da mesa, somos lembrados de que fomos comprados por um alto preço, e que pertencemos a um Senhor que nos ama até o fim.
A Ceia é o memorial da cruz, a celebração da redenção e a antecipação da glória.
Que cada um de nós participe com reverência, gratidão e alegria, dizendo no coração:
Senhor, lembro-me de Ti. E aguardo o dia em que comerei Contigo no Teu Reino.
Oração de encerramento
Pai amado, agradecemos por termos sido chamados à mesa do Teu Filho.
Obrigado porque, em Cristo, somos povo da nova aliança.
Purifica-nos de todo pecado, renova nossa fé e enche-nos de gratidão.
Que a Ceia do Senhor jamais se torne um costume, mas sempre um memorial de amor e sacrifício.
Dá-nos comunhão verdadeira e coração contrito diante de Ti.
Em nome de Jesus, nosso Redentor,
Amém.
