O Silêncio Que Fala da Eternidade

23/07/2025

Por: Reginaldo Cresencio

Ocasionalmente, a vida nos obriga a parar. E às vezes, ela nos para com uma força tão bruta, que só conseguimos nos sentar e chorar. Foi assim nestes últimos dias. Taisy partiu de forma repentina. Uma ausência que grita, um silêncio que ecoa. A notícia chegou como vento frio num dia quente: inesperada, cortante, muda tudo.

Ela se foi como um suspiro que cessa no meio da frase. Uma mulher, cheia de vida, com tantas possibilidades diante de si… de repente, silêncio. A notícia caiu como um trovão numa sala vazia. Ninguém estava preparado. Não havia diagnóstico, não havia aviso, não havia despedida. Apenas um mal súbito — e o coração de uma família que, em segundos, precisou reaprender a bater.

Naquele dia, família perdeu sua irmã, tia e filha amada. Mas não perdeu só isso. Perdeu um pedaço da história, uma companheira de infância, uma voz familiar. E a dor não era só da ausência, mas da velocidade com que tudo aconteceu.

Mas a vida, que já estava fragilizada, não parou por aí. Apenas duas semanas depois da dura despedida, recebemos com tristeza a notícia de que José Valter Barion, o pai da Quézia, ele também foi recolhido pelo Senhor. Dois lutos. Duas dores. Pai e filha separados da terra, reunidos na eternidade.

A ferida aberta no peito foi tão devastadora, que dias depois, o senhor Valter, a figura que sustentava, que representava abrigo, que tantas vezes foi força nos momentos difíceis… também foi silenciado. Um coração que, já enfraquecido pela dor, se cansou de lutar.

Ele tentou. Lutou na UTI. Respirou com ajuda. Mas não havia como ignorar o que seus olhos diziam: ele já não estava todo ali. Parte dele havia partido com Taisy. Talvez a dor da perda o tivesse ferido mais profundamente do que os exames poderiam mostrar. Talvez, no fundo, ele estivesse pronto para reencontrar sua menina — num lugar onde não há mais UTI, onde não há mais despedida.

A irmã Quézia agora se vê diante do luto duplo. Irmã e pai. Em duas semanas. Em um só coração. E a pergunta que ecoa é inevitável: Por quê?

Mas, ao longo dos anos, aprendi que nem todas as perguntas foram feitas para serem respondidas — algumas foram feitas apenas para serem choradas aos pés de Deus.

Quando o céu não responde, é a cruz que responde por Ele.

Ali, em meio ao sangue e ao abandono, vemos o Filho do próprio Deus gritando: "Por que me desamparaste?" — e ainda assim, morrendo com a confiança de que nas mãos do Pai estava seu espírito.

A cruz nos lembra que Deus não está alheio à dor. Ele entrou nela. Ele sangrou nela. Ele morreu nela. E é por isso que, mesmo sem entender tudo, podemos confiar.

A dor de perder alguém não é pequena. Ela vem com silêncio, com ausência, com aquele quarto que permanece arrumado e aquele número salvo no celular que já não vai atender. A dor não tem pressa para ir embora. Ela se aloja, muda a rotina, interfere no riso, mexe na forma como olhamos os dias.

Mas para quem está em Cristo, a dor nunca é o capítulo final.

A Palavra nos garante que há mais. Há esperança. Há reencontro. Há ressurreição. Não em forma de sonho ou consolo poético — mas em forma de promessa viva, selada com o sangue do Cordeiro.

Sim, a morte ainda visita os filhos de Deus. Mas ela não é mais um predador. Desde a cruz, ela virou mensageira. Leva os santos ao lar. E um dia, ela mesma será destruída. "O último inimigo a ser destruído é a morte" (1Co 15.26).

Hoje, nós choramos. E temos o direito — e o dever — de chorar. Jesus chorou. Jó chorou. Davi chorou. Mas choramos com esperança. Com os olhos marejados, mas fitos no céu.

A irmã Quézia e sua mãe não estão sozinhas. O Espírito Santo, Consolador, está ao lado delas. Está dentro delas. Está sustentando cada respiração. E nós, como igreja, também estamos. Somos corpo. Somos família. Quando um membro sofre, todos sofremos com ele.

Não sabemos por que Deus permitiu a perda de Taisy. Nem porque o senhor Valter a seguiu tão rapidamente. Mas sabemos que, onde há fé em Cristo, a morte é apenas um ponto e vírgula — e não um ponto final.

E um dia, quando todos estivermos diante do trono, cada lágrima será enxugada. Cada dúvida será respondida. E tudo o que hoje parece escuro será visto com luz eterna.

Até lá, vivemos com fé.

E quando a dor vier — como veio agora — nós a abraçamos com reverência, mas não com desespero.

Porque mesmo quando não entendemos, confiamos.

E isso basta.

Como pastor, já enterrei muitos. Já abracei pais, filhos, cônjuges, amigos. Mas há algo diferente quando a dor é dobrada, quando a perda se repete como um eco que se recusa a cessar. Nessas horas, o céu parece escuro, e a alma, sem força para orar. Mas é justamente aí que o evangelho se faz mais vivo. Porque a morte — essa inimiga do homem — foi vencida por Cristo na cruz. E, por mais que ela ainda tenha permissão de passar entre nós, já não tem a palavra final. Quem diz a última frase é Aquele que declarou:


"Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá."

(João 11.25)