OPINIÃO SINCERA
Resenha de Livros

A Guerra dos Espetáculos
O cristão na era das mídias
Tony Reinke
Por: Reginaldo Cresencio®
Há livros que informam, outros que entretêm, e alguns raros que acordam o leitor como um alarme no meio da madrugada. A Guerra dos Espetáculos, de Tony Reinke, pertence à terceira categoria. Ele não nos oferece apenas uma análise cultural sofisticada sobre os vícios midiáticos da era digital. Vai além. É um chamado urgente à vigilância da alma. Um socorro pastoral aos que, mesmo professando fé em Cristo, encontram-se espiritualmente entorpecidos diante das telas brilhantes e dos algoritmos hipnotizantes.
Logo de início, Reinke escancara a realidade: "o mundo anseia por deslumbramento" (p. 23). A humanidade sempre desejou ver e sentir algo que a tirasse da monotonia do ordinário. É por isso que multidões correm atrás de shows, festivais, vídeos virais, e maratonas de séries como quem busca água no deserto. O problema não é o anseio, mas o objeto de nossa contemplação. O homem foi criado para ser fascinado — mas não por qualquer coisa. Foi criado para se maravilhar com a glória de Deus. Quando esse fascínio é trocado por imagens passageiras, nosso coração se apequena e nossa alma definha.
Tony Reinke identifica essa troca como uma guerra. E, de fato, é. Não é uma guerra com balas e bombas, mas com cliques e curtidas. Uma guerra travada não nas trincheiras do campo, mas no campo dos olhos e da mente. O autor nos faz enxergar que cada notificação é um tambor de guerra, cada rolagem de feed uma pequena batalha pela nossa atenção, e cada vídeo de 30 segundos uma tentativa de colonizar nosso imaginário.
Em uma cena pungente, Reinke descreve a família correndo "em uníssono" para se apertar no sofá diante da TV, a "chupeta dos olhos" (p. 40). Essa imagem, ao mesmo tempo, cômica e trágica, denuncia uma geração domesticada por telas. É como se tivéssemos colocado nossos afetos num berço digital e os embalado com sons e imagens que entorpecem o coração. E o pior: fazemos isso juntos, em comunhão familiar. A adoração à distração se tornou liturgia doméstica.
Mais adiante, ele revela uma confissão que poderia muito bem ser feita por qualquer cristão sincero: "Talvez a falta de oração seja culpa das minhas mídias. Certamente, é culpa do meu coração" (p. 82). Aqui, a obra toca numa ferida silenciosa. As brechas do dia — aqueles minutos entre uma tarefa e outra — que outrora eram dedicadas à meditação, à oração ou mesmo ao simples silêncio diante de Deus, foram sequestradas por vídeos curtos, memes engraçados e manchetes alarmantes. É como se tivéssemos vendido o altar devocional por um punhado de pixels.
Reinke é contundente, mas não moralista. Ele compreende que nosso apetite por distração tem raízes mais profundas. Somos acumuladores de quinquilharias digitais, enchendo o salão da alma — onde deveria resplandecer a glória de Cristo — com objetos triviais que não têm peso eterno (p. 137). É como transformar um templo em um depósito de bugigangas. E a alma, antes moldada para se expandir diante da glória de Deus, agora se retrai com a dieta pobre de conteúdo fútil.
A analogia que o autor traça entre os "espetáculos da verdade" e os "espetáculos da carne" (p. 157), inspirada em Agostinho, revela que o confronto é moral e espiritual. O que consumimos com os olhos não é neutro. As imagens, sons, e estímulos que nos cercam carregam valores, ideologias e, muitas vezes, idolatrias sutis. Cada vez que escolhemos o entretenimento sem filtro, colaboramos para a erosão da sensibilidade espiritual. É como deixar uma vela acesa ao lado de um ventilador ligado: a chama da piedade vai se apagando aos poucos, quase sem percebermos.
A tecnologia, quando usada sem sabedoria, transforma-se num ídolo que exige sacrifícios: o sacrifício do tempo, da concentração, da comunhão com Deus, da profundidade relacional e até mesmo da nossa identidade como povo da aliança. Como bem disse Reinke, a "TV é a imago Populi" (p. 164), ou seja, o espelho dos desejos da multidão. As telas não apenas refletem o que gostamos — elas moldam o que passaremos a desejar.
No entanto, A Guerra dos Espetáculos não é um livro desesperançado. Ele aponta para o grande e glorioso espetáculo que aguarda o povo de Deus: "um dia nós veremos a face de Cristo" (p. 187). Essa é a visão que revigora a alma. Aquilo que hoje vemos em parte e por espelhos embaçados, contemplaremos plenamente. E quando isso acontecer, todo espetáculo vazio deste mundo — seja em 4K ou realidade aumentada — se dissipará diante do brilho incomparável da glória do Cordeiro.
Este livro é, para mim, como o toque de trombeta que desperta a sentinela adormecida. Como pastor, vejo nele uma ferramenta profética para alertar a Igreja de Cristo sobre os riscos de uma fé distraída e de uma espiritualidade superficial. É tempo de redirecionar nossos olhos, reeducar nossos apetites, e lembrar que fomos criados não para sermos meros consumidores de entretenimento, mas adoradores do Deus vivo.
A guerra dos espetáculos é, em última instância, a guerra pela adoração. E nessa batalha, precisamos estar armados com discernimento, disciplina e desejo por aquilo que é eterno. Que cada tela se curve ao trono de Cristo, e que cada olhar seja cativado não por pixels que passam, mas pela glória que permanece.
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OPINIÃO SINCERA: Nota 9,0
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Reinke, Tony. A guerra dos espetáculos: o cristão na era da mídia –
São José dos Campos, SP – Fiel, 2020.